Desde a última quarta-feira, nós católicos vivenciamos a Quaresma, período que antecede a Páscoa no qual nos dedicamos a meditações mediadas por abstinências e jejuns que visam nos tornar seres melhores, numa linguagem confessional, buscando a santidade. Afim de favorecer este itinerário mistagógico, todo ano a Igreja do Brasil propõe, por meio da Campanha da Fraternidade-CF, um tema de reflexão. Neste o tema será Fraternidade e Educação, com o lema retirado do livro de Provérbios, que diz assim: ‘fala com sabedoria, ensina com amor’. Meditando o tema, lembrei-me de algo que aconteceu comigo:
No colégio, durante as aulas de matemática eu, que possuía certa aptidão com os números e havia concluído a resolução de uma complexa equação matemática, escolhi ajudar um amigo na resolução do dito problema. Desloquei-me até sua mesa e lá ficamos balbuciando, por alguns minutos, até concluirmos a resolução da coisa toda. Ao final da aula meu professor pediu para que eu ficasse um instante a mais. Somente ele e eu. Enchi o peito e mantive a altivez na certeza de que minha atitude seria elogiada e eu estimulado a continuar amando meus colegas. Foi então que meu professor me disse: “não seja bobo rapaz. Se aquele garoto aprender a equação poderá tirar a sua vaga no vestibular”.
Foi um choque que me fez pensar acerca da função da escola. O que se deve aprender? Ignorar a necessidade do outro? Sermos avarentos sentados sobre montanhas de dinheiro enquanto ao nosso redor muitos agonizam? Aprender a não amar?
Desde então, passei a acreditar no oposto: é possível aprende amar. Obviamente que não me refiro ao amor erótico, cujo sinônimo seria o ato de desejar. Refiro me ao amor-ágape, aquele inaugurado por Jesus, no qual, como ensina santo Tomás de Aquino, o eixo de gravidade da relação amorosa se desloca do amante para o amado, ou seja, a primazia da vida e do bem estar do outro importa muito. No amor-ágape a satisfação do amado causa imensa alegria no amante.
O Texto Base da Campanha da Fraternidade lembra que “educar não é um ato isolado”. E avança o documento, propondo, na página 88, que não podemos pensar a educação como apenas um meio de preparação profissional, mas sim que ela deva ser alicerçada num projeto de vida que aponte para a promoção do bem comum.
Meditemos, nesta quaresma, sobre que tipo de educação devemos defender e que ela seja um veículo de paz, tolerância e compreensão, visando conhecer a diversidade humana, aceitá-la e amá-la.
Ronei Costa Martins Silva