HCI – Habitação Coletiva para Idosos

Acrescentar vida aos anos, e não apenas anos à vida

(Sociedade Americana de Gerontologia)

Este é um conceito inicial, ainda embrionário, com o qual buscaremos embasar o debate sobre a viabilidade de tal empreendimento. O objetivo deste trabalho foi apresentar um conceito, sobre o qual poder-se-á lapidar um projeto qualificado para um complexo HCI –  Habitação Coletiva para Idosos.

A ideia baseia-se em dois verbetes que aqui são inseparáveis, tal como gêmeos siameses indivisíveis, que se separados, ambos morrem. Assim se propõe o conceito para este empreendimento, cujas palavras-chave são: SEGREGAR  e  INTEGRAR.

                Separa-se, para atender de forma otimizada as demandas, anseios e necessidades dos idosos e em seguida e ao mesmo tempo, integra-se, para promover a adequada sociabilidade e troca de saberes, necessários às gerações.

Certa vez, Rubem Alvez escreveu:

“Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculo as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente. Ao sentir a passagem do tempo nos apercebemos que é preciso viver o momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia. No crepúsculo sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos.”

Animados por esta poesia, quisemos olhar cuidadosamente para a nossa sociedade. Nossa percepção encontrou dados e informações importantes sobre nós:

Vimos que na década de 40 a expectativa de vida do brasileiro era de 45,5 anos, em 2017 estava na média de 75,5 anos, e a projeção é a de que, em 2050, a expectativa ao nascer seja de 81,29 anos, próximo ao nível atual da Islândia (81,80), Japão (82,60) e China (82,20)14.

Os dados demográficos também são interessantes. Vimos que de 1.997 a 2.007 a população idosa no país cresceu 47,8% enquanto a população brasileira  cresceu apenas  21,6%. De 2.007 a 2.017 a população idosa no país cresceu 49,17% enquanto a população cresceu  9,7%. A projeção de crescimento aponta que de 2.017 a 2.030 a população idosa cresça 58,78%, enquanto a população crescerá 7,3%.

Soma-se a isto uma mudança de paradigma no que se refere à postura diante da vida. Se antes os idosos eram considerados e consideravam-se pessoas debilitadas, carentes e solitárias, atualmente percebemos uma inversão, sendo considerados como pessoas que desejam apreciar a melhor fase da vida.

É notório também uma mudança de visão, metas e objetivos ao longo da vida. Uma pesquisa dos psicólogos C. Bühler e E. Frank-Bruns, apurou que aos 25 anos, 92% dos desejos são voltados unicamente para si mesmos, enquanto que aos 60, 29% são desejos para si, 32% são para a família, e 21% são voltados para a Humanidade. Esta constatação configura os idosos como indivíduos mais preocupados com o curso do mundo, o significado das culturas e a conservação delas, que as pessoas de outras faixas etárias.

Enfim, diante do exposto e do que mais poderá ser vislumbrado nos slides, percebemos que nos, arquitetos, precisamos encontrar soluções que atendam esta demanda crescente, afim de melhor acolher aqueles que merecem nossa maior devoção: os idosos.

Ronei Costa