Arquitetura para Iniciantes

  1. Apresentação:

Projeto realizado com 20 estudantes do oitavo e novo ano da escola Estadual José Ferraz Sampaio Penteado, no bairro Novo Horizonte, em Limeira, interior de São Paulo.

Nos encontros, que aconteceram em todo o segundo semestre do ano de 2016, os jovens foram convidados a olhar criticamente, por meio do auxílio das ferramentas e tecnologias da arquitetura e urbanismo, para os espaços e lugares identitários (que contribui para formar a identidade individual e coletiva).

  1. Preâmbulo:

A ação aqui relatada foi realizada no ano de 2016, por meio de uma frutuosa parceria entre a escola e o arquiteto. Não havia, portanto, àquela época, qualquer interesse pecuniário por parte deste arquiteto, tendo como motivação apenas e tão somente o desejo de colocar à disposição da comunidade escolar os conceitos valiosos da arquitetura e do urbanismo para a compreensão crítica da cidade e da comunidade.

Agora, com o surgimento deste concurso a motivação continua a mesma. Muito embora o valor da premiação seja atrativo, não foi ela o motor propulsor desta inscrição. O objetivo primeiro é a partilha desta iniciativa com os demais colegas arquitetos, no intuito de motivá-los a também partilhar o conhecimento adquirido nos bancos das universidades e nos anos e exercício da profissão, em vistas de uma sociedade melhor para nós e para todos!

 

  1. Objetivo:

A ação, que fora articulada em parceria com um professor da matemática, visou despertar reflexões sobre o espaço e o território onde os jovens vivem a partir de noções básicas de sociologia urbana e aplicação de conceitos dos campos da geografia, da matemática, da física, da astronomia e da educação artística. Com isso pretendeu-se contribuir com a formação do pensamento crítico, a partir do espaço onde cada estudante vive e se relaciona.

 

  1. Descrição:

Os encontros aconteceram semanalmente, todas as quintas feiras, no contra-turno das aulas.

Nestes foram explorados diversos conceitos, tais como:

 

  • A residência e a Família:

Inicialmente pudemos estimular os jovens a olhar para os lugares em que residem. Propusemos o levantamento arquitetônico (as Built) das residências em que moram. Depois avaliamos a salubridade, o conforto e as condições de moradia, o que em geral, para os jovens daquela região da cidade, era e certamente ainda é, deveras, precária.

A partir do desenvolvimento de um olhar crítico sobre as condições de moradia de cada um deles, fizemos discussões sobre as responsabilidades sociais e políticas acerca da política pública de moradia digna.

Em seguida fizemos exercícios de elaboração de projetos da residência na qual eles gostaria de morar. Após prontos os projetos, a turma escolheu cinco projetos, por meio de votação entre eles, para serem reproduzidos em escala real, no pátio da escola. Tal exercício foi realizado com o auxílio de trenas e muitos rolos de fita crepe.

Após o exercício, a turma percebeu que o projeto deveria ser aprimorado, pois a simulação dos usos naquele modelo esquemático despertou neles a percepção de erros no projeto.

Após o citado exercício propusemos à turma algumas reflexões sobre a melhoria dos espaços em que vivem. Tanto na escola, quanto nas próprias casas e no entorno (bairro e cidade)

 Foi então que, a partir de um estímulo simples, a turma escolheu um espaço público abandonado para fazer um projeto de intervenção.

 

  • O Espaço Público, cidade e meio ambiente:

O lugar escolhido foi uma área pública abandonada localizada nas imediações da escola. Fomos até o local, tomamos as medidas, as características topográficas e climáticas e voltamos para a sala, afim de encontrarmos um projeto.

Inicialmente a maioria dos jovens desejavam fazer um projeto de uma Skate-Plaza, uma praça para andar de skate. Entretanto, propusemos um novo exercício: uma pesquisa no bairro, para sentir dos moradores o que eles desejariam para aquele espaço abandonado. Foi então que sobreveio uma necessidade interessante: havia no bairro muitos idosos que viviam ociosos. A partir deste dado, a turma então, escolheu compor a Skate-Plaza com uma área de convívio para as pessoas da melhor idade.

Um exercício vigoroso que, certamente despertou nos estudantes, a gana melhorar os ambientes públicos nos quais a comunidade pode conviver.

 

  • Auxílio Pedagógico:

Os encontros eram realizados juntamente com o auxílio do professor de matemática Joseley Francisco. Sua contribuição foi necessária, pois com a sua inestimável ajuda realizamos as conexões e interfaces do conteúdo da arquitetura com a sua disciplina e outras.

 

  1. Metodologia:

Foram realizados encontros monitorados por arquiteto e urbanista, devidamente registrado no Conselho de Classe. Nestes encontros os jovens foram apresentados às ferramentas básicas de planejamento e projeto, tais como desenhos, perspectivas, maquetes, análises do ambiente construído, noções de escala, noções de dimensões, percepção do entorno, observação e análise crítica da paisagem, do espaço e do ambiente construído, dentre outras. Com base nestes elementos os estudantes foram convidados a perceber a cidade, seu bairro, sua rua e sua morada, com um olhar mais apurado, que lhe permita formar opinião crítica sobre a cidade em que vive.

Para melhor absorver o sentido de contribuição e participação a disposição da sala de aula foi alterada. Invés das costumeiras fileiras cartesianas, a sala foi disposta em semicírculo.

 

Ao todo foram realizados 36 encontros, conforme roteiro resumido abaixo:

 

1º Encontro: o que é a arquitetura/urbanismo

Aula introdutória, na qual se apresentou uma síntese da arquitetura e do urbanismo, visando ambientar os estudantes.

2º Encontro: um objeto, vários pontos de vistas

Exercício de desenho de observação. Foi colocada uma cadeira no centro do semicírculo formando pelos jovens. A partir da observação individual, eles foram estimulados a realizarem desenhos de observação.

3º Encontro: noções de perspectiva

Apresentação de noções de desenhos em perspectivas

4º Encontro: noções de planta baixa e cortes

Apresentação de noções de desenho técnico

5º Encontro: a casa é para o corpo o que o corpo é para a alma (túlio borges, poeta)

Exposição sobre a conceito de moradia

6º Encontro: apresentação da tarefa: desenhar a planta do próprio dormitório

Proposição de um exercício no qual os estudantes observação e desenharão os próprios lugares em que dormem, que nem sempre se trata de um dormitório.

7º Encontro: roda de conversa sobre os desenhos elaborados

Debate sobre os lugares em que dormem e suas razões

8º Encontro: o dormitório

Exposição sobre as condições de conforto ambiental e salubridade de um ambiente de longa permanência e as consequências da privação de salubridade e conforto.

9º Encontro: o dormitório favorito: desenho do dormitório favorito de cada estudante

Exercício no qual os estudantes foram estimulados a desenhar um lugar adequado para dormirem.

10º Encontro: apresentação da segunda tarefa: desenhar a própria casa

Apresentação do segundo exercício, no qual, os jovens foram estimulados a ampliar a escala, observando e desenhando a própria casa onde moram.

11º Encontro: roda de conversa sobre os desenhos elaborados

Debate sobre as condições de moradia e suas razões.

12º Encontro: os aspectos necessários para uma residência

Exposição sobre os aspectos técnicos que versam sobre a elaboração de um projeto de uma casa (salubridade, conforto ambiental – insolação e ventilação, funcionalidade, fluxo e circulação

13º Encontro: política pública para moradia digna

Aula expositiva sobre políticas públicas para moradia digna

14º Encontro: a casa favorita

Exercício de desenho de uma casa ideal, a partir da percepção de cada jovem.

15º Encontro: continuidade do desenho da casa ideal

Continuação do exercício anterior

16º Encontro: continuidade do desenho da casa ideal

Continuação do exercício anterior

17º Encontro: exposição dos desenhos

Exposição, defesa dos projetos e votação para escolha de cinco plantas

18º Encontro: reprodução em escala real

No pátio da escola, as cinco plantas foram reproduzidas em escala real, com o auxílio de trenas e rolos de fitas crepe. A partir deste exercício os jovens foram estimulados a simular usos e funções da casa que projetaram.

19º Encontro: reprodução em escala real (continuação)

A partir do exercício anterior os jovens foram estimulados a repensar seus projetos, visando melhor adequá-los aos usos e funções percebidas no desenho em escala real, no pátio.

20º Encontro: as maquetes

Aula expositiva sobre a função das maquetes físicas e virtuais

21º Encontro: elaboração da maquete da casa favorita

A partir de materiais recicláveis anteriormente reunidos os jovens foram estimulados a elaborar as maquetes das residências que projetaram

22º Encontro: continuidade a oficina de maquetes

Continuidade do exercício anterior

23º Encontro: continuidade a oficina de maquetes

Continuidade do exercício anterior

24º Encontro: Espaço e Lugar

Enconto expositivo no qual foi abordada as noções de espaço e lugar a partir da contribuição dos geógrafos Milton Santos e Hy-Fu Tuan

25º Encontro: intervenção urbana

Noções sobre o urbanismo e o conceito de espaço público e apresentação do novo exercício: uma intervenção urbana em área abandonada

26º Encontro: visita ao local

Visita monitorada pelo arquiteto e professor auxiliar responsável pela turma ao local de intervenção. Nesta visita, os jovens, munidos de trenas de 50m, tomaram das dimensões da área a ser revitalizada.

27º Encontro: desenho, em escala, do local

Em sala de aula, os estudantes foram convidados a desenhar, em escada, o espaço público que reconheceram.

28º Encontro: pesquisa

Debate sobre qual melhor destino da área em análise e lançamento da uma pesquisa que foi realizada pelos jovens junto à comunidade. A pesquisa consistiu em sondar qual o desejo predominante da comunidade para o destino da área em estudo.

29º Encontro: tabulação dos dados

Tabulação dos dados obtidos na pesquisa, visando encontrar o desejo da maioria da comunidade.

30º Encontro: programa de necessidades

Após a tabulação foram definidas a tipologia e quantidade dos equipamentos urbanos a serem sugeridos pelo projeto.

31º Encontro: início dos projetos

De posse deste programa os jovens iniciaram os projetos, a partir de grupos formados por, no mínimo 4 estudantes.

32º Encontro: projetos (continuação)

Elaborando os projetos

33º Encontro: projetos (continuação)

Ainda elaborando os projetos

34º Encontro: apresentação dos projetos

Apresentação dos projetos

35º Encontro: exposição dos projetos para a comunidade escolar

Exposição dos projetos no pátio da escola, para os demais membros da comunidade acadêmico.

36º Encontro: encerramento

Encerramento, avaliação e confraternização

 

 

  1. Recursos necessários:

Os recursos necessários para o desenvolvimento das atividades são:

  • A estrutura de uma sala de aula, que, deverá ser organizada em semi círculo;
  • Pátio coberto a construção esquemática do projeto em escala real
  • Lousa e giz
  • Data Show (se possível, para a exposição de referências de projeto)
  • Trinta fitas de fita crepe (adesiva) de 18mm x 50m
  • Dez trenas de 5 metros
  • Duas trenas de 50 metros
  • Material reciclável diverso (papelão, caixas, garrafas pet, canudos, dentro outros)
  • Cinco revolveres de cola quente.
  • Cinco tubos de cola
  • Pinceis para guache
  • 10 jogos de tinta guache, para pintura das maquetes
  • Lápis grafite HB (costumeiramente os estudantes já dispõe)
  • Lápis colorido (costumeiramente os estudantes já dispõe)
  • 100 folhas A3, gramatura 90g/cm²
 
  1. Conclusão:

Durante a realização desta atividade e principalmente após a sua conclusão pode-se perceber um aprimoramento do olhar dos jovens sobre a cidade, sobre seus bairros e lares. Os exercícios realizados tiveram muito êxito, uma vez que aprimoraram a consciência crítica dos estudantes. Além deste aspecto principal, alguns avanços, em tese, secundários puderam ser mensurados: a melhor compreensão de conceitos de outras disciplinas que até então eram incompreensíveis, puderem ser apreendidos devido à sua aplicabilidade na arquitetura, exemplo disto é a trigonometria aplicada à execução de um telhado de uma maquete física. 

Referências utilizadas:

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