Imagine alguém sendo emburrado para a borda de um precipício, a centímetros de escorregar e cair no vasto vazio. Imagine ainda e em seguida que lhe seja oferecida duas opções de voto, sendo que a primeira seria cair e morrer e a segunda oferta seria agarrar-se a um arame farpado, para se salvar. Se fosse apresentada estas duas opções, permitindo o imediato escrutínio, ou seja, a escolha do coitado, poderíamos dizer que houve liberdade para a escolha? Poderíamos dizer que o miserável goza de liberdade democrática?

Desavisadamente alguém até diria que sim, que o justo condutor da sina do desgraçado lhe ofereceu duas opções, e que por conta disto ele não seria um terrível algoz, mas sim um valoroso democrata. Poderíamos dizer ainda que o moribundo tinha diante de si duas opções de voto: ser engolido pela escuridão do precipício ou se agarrar ao arame de espinhos de aço.

Para compreendermos melhor esta minha alegoria é preciso olhar para algo imperioso e anterior à liberdade e também anterior à democracia. Refiro-me ao domínio da necessidade. Todos nós estamos submetidos a este domínio, ou seja, não há liberdade, muito menos democracia, quando um bem necessário à vida está em jogo. Explico melhor: qualquer um de nós seria incapaz de decidir entre respirar e não respirar, isto por conta de que o domínio da necessidade impera inexoravelmente sobre quaisquer outras condições, sejam elas morais ou éticas. Estou certo de que você ignoraria a segunda opção e encheria os pulmões de ar imediatamente, pois, assim como eu, você está sob o domínio da necessidade.

Agora imagine esta condição real irradiada por toda uma nação. Imagine uma nação submetida ao domínio da miséria, cujos compatriotas e seus filhos se submetem a roer ossos para aplacar minimamente a fome que consome suas vísceras. Estas pessoas não conseguem gozar de liberdade democrática, pois estão submetidas ao domínio de uma necessidade vital: alimentar-se.

Se ao esfomeado for oferecido um prato de comida em troca de qualquer favor, por mais indecorosa se a barganha possa parecer, o faminto aceitará, pois, sob o domínio da necessidade, não lhe restará opção. Diante da usurpação de dignidade, a escolha não é real. Quem tem fome não tem liberdade. Por mais que ignoremos, no domínio da fome não há democracia.

É por isso que antes de sermos verdadeiramente democratas, que antes de sermos verdadeiramente livres e apologistas da liberdade, antes de sermos arautos ética e da moral social, precisamos urgentemente erradicar a fome e a miséria, para permitir que as pessoas, todas elas, possam ter suas necessidades básicas suprimidas. Somente superando o domínio da necessidade seremos realmente livres e democratas.

Democracia X Domínio da Necessidade

Imagine alguém sendo emburrado para a borda de um precipício, a centímetros de escorregar e cair no vasto vazio. Imagine ainda e em seguida que lhe seja oferecida duas opções de voto, sendo que a primeira seria cair e morrer e a segunda oferta seria agarrar-se a um arame farpado, para se salvar. Se fosse apresentada estas duas opções, permitindo o imediato escrutínio, ou seja, a escolha do coitado, poderíamos dizer que houve liberdade para a escolha? Poderíamos dizer que o miserável goza de liberdade democrática?

Desavisadamente alguém até diria que sim, que o justo condutor da sina do desgraçado lhe ofereceu duas opções, e que por conta disto ele não seria um terrível algoz, mas sim um valoroso democrata. Poderíamos dizer ainda que o moribundo tinha diante de si duas opções de voto: ser engolido pela escuridão do precipício ou se agarrar ao arame de espinhos de aço.

Para compreendermos melhor esta minha alegoria é preciso olhar para algo imperioso e anterior à liberdade e também anterior à democracia. Refiro-me ao domínio da necessidade. Todos nós estamos submetidos a este domínio, ou seja, não há liberdade, muito menos democracia, quando um bem necessário à vida está em jogo. Explico melhor: qualquer um de nós seria incapaz de decidir entre respirar e não respirar, isto por conta de que o domínio da necessidade impera inexoravelmente sobre quaisquer outras condições, sejam elas morais ou éticas. Estou certo de que você ignoraria a segunda opção e encheria os pulmões de ar imediatamente, pois, assim como eu, você está sob o domínio da necessidade.

Agora imagine esta condição real irradiada por toda uma nação. Imagine uma nação submetida ao domínio da miséria, cujos compatriotas e seus filhos se submetem a roer ossos para aplacar minimamente a fome que consome suas vísceras. Estas pessoas não conseguem gozar de liberdade democrática, pois estão submetidas ao domínio de uma necessidade vital: alimentar-se.

Se ao esfomeado for oferecido um prato de comida em troca de qualquer favor, por mais indecorosa se a barganha possa parecer, o faminto aceitará, pois, sob o domínio da necessidade, não lhe restará opção. Diante da usurpação de dignidade, a escolha não é real. Quem tem fome não tem liberdade. Por mais que ignoremos, no domínio da fome não há democracia.

É por isso que antes de sermos verdadeiramente democratas, que antes de sermos verdadeiramente livres e apologistas da liberdade, antes de sermos arautos ética e da moral social, precisamos urgentemente erradicar a fome e a miséria, para permitir que as pessoas, todas elas, possam ter suas necessidades básicas suprimidas. Somente superando o domínio da necessidade seremos realmente livres e democratas.

Ronei Costa

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