A sociedade contemporânea, sobretudo na parte ocidental do planeta, se vangloria ao oferecer a liberdade aos seus indivíduos. Entretanto, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, enxerga um paradoxo. Para ele é exatamente este tipo de liberdade oferecida que nos conduz ao aprisionamento.
Segundo Han a liberdade é uma condição que somente se alcança quando nos livramos de quaisquer coações. Contudo, se no passado as coações aconteciam de forma explicita, por meio da força e da imposição, atualmente ela é sutil e quase imperceptível, agindo na psique do indivíduo e das massas.
O filósofo defende que atualmente estamos sob um tipo de controle psicopolítico digital que nos seduz e nos submete às novas formas de poder. E este controle é realizado por meio da manipulação de um sistema de dados, chamado big data. Este reúne grandes conjuntos de informações que são oferecidas livremente nas redes sociais por todos nós, como se voluntariamente forjássemos os grilhões que serão atados aos nossos pescoços.
Cada curtida, cada clique, cada mínima reação do indivíduo na rede é armazenada e tabulada. O big data registra sua viagem predileta, de seu gosto culinário, seu time de futebol do coração, a hora que costuma acordar, dormir, seus tabus, hábitos e costumes. Arquitetados, estes dados oferecem um perfil psicológico preciso do indivíduo e da sociedade, com estratificações extremamente minuciosas.
A manipulação destas informações conformam um tipo de conhecimento de dominação por meio do qual, segundo Han, poder-se-á influenciar as pessoas até num nível pré-reflexivo e inconsciente. Por meio de uma espécie de refluxo das redes sociais será possível criar e até alterar padrões de comportamento coletivo, sem que possamos perceber suas origens. Assim teríamos a ilusão de estar agindo livremente, quando na prática estaríamos obedecendo a comandos predefinidos e pré-programados. Byung-Chul Han, vê no horizonte próximo o sepultamento do livre arbítrio.
Obviamente este fenômeno tem impacto em todas as dimensões da vida em sociedade, mas parece-nos que será na política que ele revelará sua faceta mais preocupante.
Sabemos que a democracia precisa ser aperfeiçoada a partir da consolidação de mecanismos de participação popular, entretanto, o advento da psicopolítica digital poderá contaminar até mesmo a essência da democracia: a própria autonomia da participação popular. Se de fato os padrões de comportamento coletivo forem afetados e influenciados por esta psicotecnologia, quem a comandar terá nas mãos um poder incalculável.
Ronei Costa Martins Silva
Arquiteto e urbanista