Dia destes, logo após o almoço, fui até a cozinha para cumprir uma das tarefas domésticas mais citadas nos fóruns de reclamações das redes sociais: lavar a louça. Imediatamente meu filho, Benício, de quase 3 anos, perguntou-me se poderia me ajudar na tarefa.
Anos atrás fui convidado para fazer o projeto de arquitetura para uma capela para a Companhia de Jesus – os Jesuítas. Numa das inúmeras reuniões para a definição do conceito do projeto, adentramos numa agradável proza sobre a vida. Entre muitas trocas e sábios conselhos, um dos religiosos opinou sobre a idade adequada para se ter filhos. Na opinião daquele sábio a experiência da paternidade seria melhor vivida se os papais pudessem adentrar nesta aventura já com certa maturidade, por volta dos 30 ou 35 anos.
Não quero aqui apontar como inadequadas as experiências da paternidade e maternidade em tenras idades. Nada disto. Conheço muitos pais e mães exemplares que o foram ainda bem jovens.
Ocorre que, para mim, as observações do padre me caíram como uma luva. Tornei me pai tardiamente se comparado aos padrões costumeiros. Quando Benício chegou eu contava 38 anos e já tinha vivido uma boa quantidade de experiências. E esta mediana trajetória me faz ver e lidar com as coisas de outra forma, como lavar a louça, por exemplo.
Aos 25 anos eu focava na louça a ser lavada. Esta era a minha meta. Se porventura naquela época um filho de três anos viesse querer me ‘ajudar’, eu, prevendo as dificuldades e o desperdício de tempo, afastaria o menino, afim de concluir a tarefa com êxito. E meu ato teria boas e aceitáveis justificativas, que sustentariam facilmente a decisão.
Hoje, aos 40 anos, não vejo a louça lavada como um fim, mas sim como um meio; um engenho para fortalecer os vínculos afetivos com o meu filho e assim criar um ambiente propício para o seu desenvolvimento. Se a tarefa será concluída no tempo previsto ou se a louça ficará bem lavada, são metas secundárias e, portanto, menos importantes.
Naquela tarde, surpreendido pela pergunta do Benício, respondi afirmativamente. Entusiasmado, ele arrastou uma cadeira até a frente da pia, subiu nela e ficou comigo todo o tempo, ajudando a lavar toda a louça. Cada item higienizado tinha sua contribuição, talheres, copos, pratos, todos passeavam pelas suas mãozinhas de garoto.
Ficamos molhados, molhamos o piso, fizemos espuma em excesso e apesar de levarmos mais tempo para terminar a tarefa, desejei intimamente continuar ali. Tanto que fiquei procurando outras coisas para lavarmos juntos, talvez um copo deixado na sala ou uma vasilha esquecida na geladeira.
No mesmo dia lembrei-me do amigo jesuíta ao perceber que, talvez, na juventude não notaria o essencial: eu não estava lavando a louça! Estava cultivando uma relação afetiva entre Benício e eu!
Ronei Costa