Chame na memória uma imagem que simbolize a última ceia de Jesus! Certamente você imaginou ‘A Santa Ceia’, obra de Leonardo Da Vinci, que retrata uma mesa longilínea na qual Jesus está ao centro ladeado por doze homens. Esta obra reside no nosso imaginário e com ela muitas questões duvidosas se cristalizaram. Será mesmo que a Ceia aconteceu numa mesa comprida, na qual todos se sentaram de um único lado, como se estivessem posando para uma foto? Óbvio que não! Da Vinci recorreu a uma licença poética para retratá-los, afim de não pintar personagens de costas. Certamente a Ceia aconteceu com todos ao entorno de uma mesa e não defronte para ela. Mas a questão mais intrigante refere-se à ausência das mulheres.

Da Vinci baseou-se nos relatos do evangelho que dizem que a Ceia foi celebrada com doze discípulos. Entretanto sabemos hoje que este relato foi condensado em síntese e não buscou descrever detalhadamente aquele encontro, mas sim fixar uma ação de Jesus que deu origem à prática litúrgica vivida pelos primeiros cristãos.

Sabemos também que a mulher judia era considerada inferior e propriedade dos homens, primeiro pertencia ao pai e depois ao marido. Tanto que o Antigo Testamento a coloca como objeto: “não cobiçarás a casa, nem a mulher de seu próximo”. Muitas eram repudiadas e abandonadas apenas por não mais agradar ao marido. Mas Jesus subverteu esta ordem, oferecendo àquelas mulheres excluídas a promessa do Reino: a dignidade de pessoa humana. O Nazareno era amigo de Maria de Magdála; das irmãs Maria e Marta, de Bethânia; tinha seguidoras fiéis como Salomé e muitas outras que o acompanharam até Jerusalém e não o abandonaram, nem mesmo no momento de sua execução.

                Algumas destas, inclusive, eram suas discípulas, apesar de não serem adjetivadas assim. E isto por conta de o idioma da época, refletindo a cultura machista, não possuir, até o século II, a palavra em aramaico mathétria (discípula) para designá-las. As discípulas não eram mencionadas nos relatos por conta de uma limitação linguística e, provavelmente, misógina.

Mas algo surpreendente furou esta densa camada de cultura machista, fazendo emergir a importância delas para a origem da fé cristã: foram as mulheres as primeiras a testemunhar a ressurreição de Cristo.

Ora, então porque elas estariam ausentes da ceia de despedida de Jesus se normalmente comiam com Ele e o acompanharam até a morte e ressurreição?

                Sua ausência não faz sentido. Elas estavam lá!

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