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Para que servem as leis? Para que serve o senado, o congresso e os tribunais? Respondo: servem para compensar a falta de amor!

A título de pequena amostra analógica e paradigmática, pensemos sobre aqueles que escolheram casar-se e que fizeram a opção pela fidelidade conjugal, dentre os quais me encontro. Para nós penso que há algo que se coloca na antessala do tal pressuposto moral. Algo que se pode encontrar por meio de uma simples pergunta retórica:

Porque você é fiel?

Vem comigo:

Se a sua fidelidade for motivada pela existência de uma lei proibitiva, seja ela do campo confessional/religioso, seja do campo cível/penal, a hipótese da alteração desta lei poder-lhe-á autorizar imiscuir pela infidelidade. Se os códigos de conduta moral (que sempre se adequam à cultura de cada época e lugar), forem alterados, seu compromisso com a fidelidade poderá ser abolido, afinal, o que segura teu ímpeto lascivo são algumas palavras com força de lei deitadas num papel timbrado.

Agora se a sua fidelidade conjugal for baseada no amor, a mera alteração do código moral não fará efeito algum sobre sua conduta. Isto muito em razão de que para você, seu amante lhe basta. Um se encontrará suficientemente preenchido pelo outro no amor, de tal modo que não haverá espaço para uma história conjugal paralela. Para estes a hipótese da alteração da lei não amedronta, pois ela sequer importa.

A partir deste exemplo simples, olho para o estado legiferante com uma certa desesperança. E o desalento me vem quando percebo que nós, enquanto sociedade que se pretende evoluída, precisamos estabelecer regras, sejam elas por meio dos mecanismos civis, sejam por meio de preceitos e dogmas religiosos, para compensar a falta de amor.

É preciso uma lei que impeça o feminicídio. É preciso uma lei que impeça o racismo. É preciso uma lei que impeça a homofobia. É preciso uma lei que impeça a intolerância religiosa. Incontáveis textos legais, aprovados pelos legislativos, que visam balizar a vida daquelas pessoas que, dadas as circunstâncias a que foram expostas, restou-lhes somente a aridez de um coração em descompasso com o amor.

O fato é que a cada dia estou mais convencido de que se aprende amar, por meio de exercício paulatino e cotidiano. Obviamente que não me refiro ao amor erótico, cujo sinônimo seria o ato de desejar. Refiro me ao amor-ágape, aquele inaugurado por Jesus, no qual, como ensina Santo Tomás de Aquino, o eixo de gravidade da relação amorosa se desloca do amante para o amado, ou seja, a primazia da vida e do bem estar do outro importa muito. No amor-ágape a satisfação do amado causa imensa alegria no amante.

Certa vez, quando eu ainda era adolescente, aconteceu algo emblemático comigo. No colégio, durante as aulas de matemática eu, que possuía certa habilidade com os números e havia concluído a resolução de uma complexa equação matemática, escolhi ajudar um amigo a desenvolver a resolução do dito problema. Desloquei-me até sua mesa e lá ficamos balbuciando, por alguns minutos, até concluirmos o desenvolvimento da coisa toda. Ao final da aula meu professor pediu para que eu ficasse um instante a mais. Somente ele e eu. Enchi o peito e mantive a altivez na certeza de que minha atitude seria elogiada e eu estimulado a continuar amando meus colegas. Foi então que meu professor me disse: “não seja bobo meu rapaz. Se aquele garoto aprender a equação, ele será seu concorrente no vestibular e poderá tirar a sua vaga”.

Foi um choque que ignorei, mas que me fez pensar acerca da função da escola. O que se deve aprender? Sermos egoístas e individualistas? Não cuidar do outro? Almejarmos sermos sujeitos avarentos sentados sobre montanhas de dinheiro enquanto ao nosso redor muitos agonizam? Não amar?

Em 1999 a UNESCO, nomeou a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Esta comissão publicou o relatório “Educação: um tesouro a descobrir” Nele se propõe quatro pilares para a educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos e aprender a ser.

Os dois últimos pilares tratam da educação para amar. A educação como um veículo de paz, tolerância e compreensão. Estes pilares sugerem mecanismos que promovam uma descoberta progressiva do outro, visando conhecer a diversidade humana, aceitá-la e amá-la. Estamos diante de uma proposta ousada e que devolve ao meu coração a esperança que fora sepultada nos corredores dos tribunais e das casas legislativas. Pressinto que este seja o nosso horizonte, a meta a ser perseguida: uma sociedade que nos eduque para amar.

Ronei Costa Martins Silva, a.u.

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